DISCURSO DO ANIVERSÁRIO DE 15 ANOS DA AELE
"Brasil, meu Brasil brasileiro /
Meu mulato inzoneiro / Vou cantar-te nos meus versos..." e é com versos e encantos que a Academia
escadense de Letras canta sua terra, sua gente e suas memórias, pois Escada
também é Brasil. Um Brasil profundo, pensante, criativo, que floresce em
palavras.
Costuma-se dizer que em qualquer cidade
do interior, há uma praça, uma igreja e uma boa história para contar. Escada
vai além. Tem histórias, sim, mas tem também quem as escreva, quem preserve a
memória, quem semeie a palavra e enalteça os frutos do pensamento.
Escada tem sua praça, sua Matriz, seu
Mercado — mas tem também sua Academia Escadense de Letras e hoje, nessa noite
memorável, essa Casa comemora seus 15 anos de primavera, por isso a Casa Tobias
Barreto parafraseia Cecília Meireles ao afirmar que tem aprendido com cada
primavera a se cortar e a voltar sempre inteira.
Essa menina-moça, dona de saberes,
entre as ladeiras, tem sido ponte, biblioteca viva, guardiã de vozes e farol
nos períodos de ventania. Foi assim na pandemia: resistiu, reinventou-se e
floresceu.
Este jardim literário, artístico e
cultural tem cultivado a palavra e a memória escadense. Isso cheira a avanço e
amadurecimento. Não estamos apenas celebrando uma história - estamos celebrando
o verbo que se metamorfoseia, pulsa e se perpetua.
São 15 anos que transformamos letras em
sementes, e delas germinaram sonhos e identidade e obviamente, ao falarmos em
sonho, trazemos à memória o nome da pessoa visionária que idealizou esta Casa e
lutou para construí-la: Luís Minduca. Além desse acadêmico, aplaudimos a todos
os fundadores que sonharam com ele e ajudaram a fortalecer esta instituição,
aos presidentes e presidentas que por aqui passaram e deixaram seu legado para
a formação dessa teia de arte, de cultura, de pertencimento e a todos os acadêmicos
que compõem a Casa Tobias Barreto, que acreditam nessa instituição e apoiam as
ações desenvolvidas (não vou discorrer sobre os presidentes, porque teremos um
momento específico para isso).
Esta Casa tem dado uma contribuição
significativa para o desenvolvimento sociocultural e econômico da nossa cidade.
Entre os muitos frutos desse trabalho, destacamos três:
1-O concurso artístico-literário
Ele simboliza um marco essencial na promoção
da cidadania cultural e no fortalecimento das expressões artísticas e
intelectuais locais. Antonio Candido, sociólogo, crítico literário e professor
emérito da USP, defendia que a literatura contribui para estimular a liberdade
de expressão e o protagonismo dos alunos, ou seja, por intermédio do desenho e
da escrita, nós valorizamos os talentos locais, muitas vezes invisibilizados – oferecendo-lhes
o palco simbólico do reconhecimento.
Outro aspecto considerável é a formação
do pensamento crítico, permitindo que o estudante leia seu contexto sociocultural e exerça sua cidadania. Escrever e desenhar é
também agir no mundo — sair do lugar da recepção cultural para
ser autor, produtor de arte, voz ativa no tecido social, consolidando, dessa forma, o sentimento de pertencimento. Sobre isso,
discute Marilena Chauí, em sua obra "Convite à filosofia", como a cultura e a
arte são formas de resistência e construção da liberdade, visto que a arte emancipa,
desenvolve a crítica e forma sujeitos atuantes na sociedade.
2-O “Natal com poesia”
Mais que um evento social, trata-se de
um autêntico ato de resistência cultural, de justiça social e de semeadura
futura. Além de distribuir livros a crianças da periferia, promove o acesso à
literatura, sinalizando que ela não é privilégio — é direito de todos e isso
combate simbolicamente a exclusão.
Distribuir livros e brinquedos é um
gesto humanitário, sim — mas também político, ao posicionar a palavra como
ponte entre o saber e o cuidado. O “Natal com Poesia” ratifica a missão maior
de uma verdadeira Academia: levar a palavra onde o silêncio tem sido imposto. Logo,
o "Natal com Poesia" é um projeto que reitera a missão de uma
verdadeira Academia: levar a palavra onde o silêncio tem sido imposto.
3-A publicação das antologias
A produção e publicação de antologias —
literárias e não literárias — é uma das ações mais valiosas da Casa. Preserva a
memória cultural, promove o pensamento crítico e democratiza o acesso ao mundo
da escrita e da publicação, historicamente reservado a poucos.
Essa ação oferece oportunidade a
autores de áreas marginalizadas, da zona rural, de escolas públicas — revelando
saberes diversos e vozes plurais. É um compromisso com a cultura, com a democratização
do conhecimento e com a formação de uma consciência coletiva mais sensível,
crítica e participativa. Transformar o silêncio em palavra, e a palavra em
legado — eis a missão!
Além de sua missão literária, a AELE tem
colaborado com o desenvolvimento econômico de Escada. Isso ocorre quando
firmamos parcerias com fazedores de cultura local, fortalecendo uma cadeia
produtiva que envolve músicos, gastrônomos, decoradores, fotógrafos, artesãos —
profissionais, muitas vezes, invisíveis, mas imprescindíveis. A cultura também
gera renda. Não colaboramos apenas com a divulgação literária e
científica.
A Casa também tem se dedicado a
contemplar minorias e grupos historicamente silenciados. Isso pode ser
percebido quando abrimos espaço para mulheres publicarem suas histórias de vida
sob sua perspectiva. Nós resgatamos e valorizamos a memória feminina, fortalecemos
a autoestima e a identidade e declaramos: “Sua história importa”.
Esta iniciativa revela que nosso
compromisso é muito mais amplo do que o da promoção literária. Trata-se de uma
atuação com forte impacto social, educativo, afetivo cultural e transformador,
porque provoca empoderamento, pertencimento e educação para a equidade de
gênero. Na verdade, oportunizamos que elas deixem de ser coadjuvantes e ocupem
seu lugar de protagonista e produtora de memória na cidade, transformando a
palavra em ferramenta de reparação, inspiração e construção de uma sociedade
mais justa, afetiva e igualitária.
Para acrescentar, damos lugar de fala também a pessoas com deficiência, colocar a inclusão em pauta é um passo muito importante, mas não basta. A inclusão é um desafio real, urgente e inacabado. Precisamos transformar a inclusão discursiva em prática, a inclusão protocolar em acesso, oportunidade, representação e respeito às diferenças. Participação parcial em protagonismo real, só dessa forma, conseguiremos construir uma sociedade verdadeiramente justa, diversa e humana. Tereza Mantoan (2003), professora do curso de Pedagogia da UNICAMP, disse que incluir é muito mais do que colocar pessoas diferentes no mesmo espaço. É reconhecer as diferenças e fazer delas um elemento de transformação social.
A AELE tem buscado isso ao envolver em
atividades sociais vários grupos minoritários, como a terceira idade, que pode
ser incluída devido à discriminação por idade (etarismo) e à exclusão que
enfrentam, afetando sua saúde física e mental e reduzindo sua qualidade de
vida. Além de crianças de periferia, pessoas negras, entre outros grupos. A Academia
amplia os horizontes da cultura e da literatura, reafirmando que a palavra não
pertence apenas aos convencionalmente letrados, mas também àqueles que carregam
histórias respeitáveis e silenciadas. Nós descortinamos que a cultura não tem
um só rosto, e que a palavra pertence a todos, não só aos convencionalmente
letrados, mas também aos que carregam histórias silenciadas e respeitáveis.
A cultura é caminho. Lima Barreto e
Mário de Andrade, autores de épocas diferentes, já sinalizavam isso.
Lima Barreto, em 1915, em sua obra "Triste
Fim de Policarpo Quaresma”, escancarou a hipocrisia nacional e o abismo entre o
“Brasil oficial” das elites e o “Brasil real” do povo. Um escritor negro,
marginalizado, que denunciou o racismo, o militarismo e a exclusão com lucidez
e coragem.
Mário de
Andrade, em 1928, sua obra “Macunaíma”, deu voz aos povos indígenas, à cultura
afro-brasileira e aos saberes populares. Descolonizou a literatura, recusando
padrões europeus e celebrando a diversidade mestiça do nosso país.
Lima denunciava a exclusão. Mário transformava
a margem em centro. Ambos mostraram que a cultura é campo de luta, de denúncia,
de transformação política e social.
Por essa razão, nesta noite, a Casa Tobias
Barreto celebra seus 15 anos reafirmando seu papel como canal de fortalecimento
e difusão da cultura escadense. Que venham mais primaveras e que nós sejamos sempre
ponte e abrigo, em que o silêncio nunca tenha a última palavra.
Ratificamos nosso compromisso com a resistência e
com a esperança, reconhecendo que a cultura não é adorno: é sustento.
Que venham mais vozes e mais caminhos! E como canta
Milton Nascimento:
“Todo artista tem de ir aonde o povo está. ”
Que a AELE continue indo — com arte, com afeto e
com coragem. Viva a AELE! Viva a cultura que transforma! Viva o verbo que nos
une!
Rosilda Araujo
17/05/2025
(Oradora da AELE – Biênio 2024-2026)
Discurso de aniversário dos 15 anos da Academia Escadense de Letras
Acadêmicos e acadêmicas,
Autoridades presentes,
Convidados ilustres,
Amigos e amigas da cultura e das letras,
Boa noite!
Chegamos aos nossos 15 anos de
vida! Essa data no olhar da vida humana significa que estamos entrando no
início da vida adulta, mas também por um momento marcado por muitas transições
e mudanças. E a AELE se encontra justamente no meio desse furacão de transições
que estão marcando a nossa contemporaneidade.
No entanto, mesmo nos adaptando a
essa realidade presente, não deixamos de olhar para trás e entender nossas
raízes originárias e nosso principal propósito que é “Lutas com Palavras”. Não
podemos perder de vista os Ideais Aeleanos que nasceram mesmo antes de 24 de
maio de 2010, quando um grupo de escritores, poetas, historiadores, educadores
e artistas, mas acima de tudo sonhadores, sonharam que era possível transformar
o mundo por meio da palavra. Eles e elas se recusaram a permitir que o silêncio
tomasse o lugar da voz da nossa gente. Com coragem e idealismo os nossos
acadêmicos e acadêmicas fundadores plantaram a semente que hoje frutifica em um
solo fértil que somos nós que damos continuidade a esse plantio e que estamos
cuidando e zelando para que novos frutos sejam produzidos a cada ano. A vocês
que plantaram essa semente nossa singela homenagem: José Luís Minduca (In
memoriam), Mariinha Leão, Sebastião Ferreira (In memoriam), Sevatil Lobo de
Siqueira (In memoriam), Valdeci Leocádio de Siqueira Filho, Adriano de Sousa
Sales, Severino José Lins, Waldyr José Siqueira, Marcos Galdino dos Santos,
Maria Elizabeth Varela Leocádio, Ana Lucia Gomes Cavalcanti Neto e Maria do
Carmo Souza (in memoriam). Obrigada por terem plantado a AELE! Aos que já
partiram estão plantados em nós suas histórias e suas lembranças e aos que
estão por vir, depositamos em vocês nossa esperança de continuidade.
E aqui para fortalecer nosso
compromisso enquanto academia lá em 2010, tomarei licença para usar das
palavras proferidas por Sevatil Lobo, nossa eterna oradora e literata que disse
o seguinte: “Uma Academia de Letras fomenta em seu reduto a expressão de uma
cultura voltada para o aprimoramento do saber e da palavra enquanto Arte;
abriga poetas, escritores, ensaístas, cientistas, filósofos, juristas; somos
então uma sociedade de caráter literário, científico, artístico, e filosófico;
temos o compromisso de esclarecer as mentes, alimentar ideias, [fomentar] leituras
seletivas, ajudar na produção da palavra artística; sem deixar de proclamar as
inquietações sociais próprias de um novo século, no campo político, social,
religioso e, também estético.” (LOBO, Sevatil. 2010).
Portanto, meus amigos, amigas,
acadêmicos, acadêmicas e amantes da arte e da literatura, temos uma
responsabilidade social diante das mudanças e tragédias que permeiam a nossa
sociedade. Podemos ser o fruto que gera esperança, leveza, crítica e poesia! Sevatil
Lobo buscou interpretar nosso lema “Lutar com Palavras” e apontou caminhos a
serem seguidos. São palavras que nos levaram à ação e que refletem todo o
trabalho desenvolvido ao longo desses anos e pelas quais vou parafrasear!
“Lutem com palavras! Afinal,
lutar com palavras:
1 – É abolir a ignorância! [Para
todo lado tem especialistas de internet]
2 – É quebrar os grilhões!
[Racismo é crime!]
3 – É vencer os obstáculos!
[Todos os dias]
4 – É dar asas para a Liberdade!
[Liberdade de ser quem somos!]
5 – É transformar vidas! [Ver
nossos jovens entrarem na Universidade Pública!]
6 – É alimentar sonhos! [Publicar
nossos textos!]
7 – É defender um ideal! [Justiça
e paz!]
8 – É suavizar realidades
tristes! [A cultura nos alimentou durante a pandemia!]
9 – É abrir olhos a cegos!
[Desenvolver o senso crítico!]
10 – É fazer crer no impossível!
[Essa noite de hoje!]
11 – É vencer o vencedor! [Sempre
estar do lado dos mais vulneráveis!]
12 – É também, ser poeta,
escritor, cientista, filósofo, historiador, é ser alguém que sabe, que o mundo
seria escuro e frio, sem a Palavra!
Enfim, ... lutar com palavras ...
é contentar, deleitar, encantar, alimentar e alegrar a alma dos homens [e
mulheres]!” (LOBO, Sevatil, 2010).
E se pararem para analisar, essa
cartilha de ensinamentos deixada por Sevatil tem sido a tônica do fazer aeleano
em todas as suas atividades. Não poderia deixar de citar nosso saudoso Minduca
quando falava da sua obra Escada, riqueza de Pernambuco, “é como se
fosse um pedacinho de terra que a gente vai poder pegar na mão e apertar no
peito”. Faço minhas as suas palavras nobre confrade e aqui te parafraseio: a
AELE é como se fosse um pedacinho de terra plantada que a gente pega na mão,
aperta no peito, cuida e que por esse cuidado, tem gerado frutos belíssimos.
Obrigada a todos e todas!
Isabel Oliveira
Presidente da AELE - Biênio 2024-2026
Escada, 17 de maio de 2025
**********
Homenagem aos Presidentes e Presidentas da
AELE
Estar à frente da Academia
Escadense de Letras (AELE) por ocasião do seu aniversário de 15 anos apresenta
um senso de grande responsabilidade, mas também um sentimento de pertencimento
por fazer parte dessa instituição desde 2014. São 11 anos de compromissos
assumidos, inicialmente pela Diretoria Financeira por três gestões, e agora
como Presidente. Estar à frente de uma gestão institucional é como apontar o
caminho, o abrir alas, é conduzir os passos de quem vem depois, é iluminar e
chamar para essa caminhada juntos.
E nesse caminhar estar sozinha
não é uma opção. Pode nos fadigar, nos cansar, nos fazer desistir e logo
percebemos que todos os caminhantes também param, não se animam a continuar e
desistem. Assim, tem sido a AELE nesses 15 anos. Em alguns momentos seu caminhar
foi mais rápido, outros mais lentos, no entanto, o mais importante é perceber
que seu caminhar nunca parou.
Nesse sentido faço aqui uma breve
homenagem aos presidentes e presidentas que contribuíram para essa caminhada,
que apontaram os caminhos e que contribuíram para essas 15 voltas em torno do
sol, e em extensão, aos seus respectivos
Vice-Presidentes e Diretorias. Rendo aqui uma homenagem especial ao nosso
confrade Luiz Minduca (in memorian), o idealizador dessa casa, o que
sonhou primeiro e semeou esse sonho em outros corações. Logo depois nosso
confrade Waldyr Siqueira, o pescador de gente que, assim como Pedro, fortaleceu
essa caminhada. Logo depois nossa academia foi conduzida pela primeira mulher,
Teresinha Melo, marcando sua passagem com inovação na arte de gerir. Depois,
chega Ana Neto, a conciliadora, a pacificadora e a agregadora na condução da
sua gestão. Tarcísio Augusto mergulha a AELE com as inovações na comunicação e
nas estratégias de reinventar as ações da Academia no momento mais difícil e
recente, que foi o período pandêmico. E a AELE se fez Live. A caminhada
permanece e Rosilda Araújo assume a condução, direcionando e apontando
caminhos, fortalecendo o protagonismo feminino com o Livro das Mulheres.
Marcelo Moreira continua a caminhada e tem um papel fundamental na condução dos
Concursos Literários e no envolvimento das escolas em nossas ações.
Enquanto condutora atual desse
caminhar, só tenho a agradecer a todos e todas que guiaram a Academia, vocês
são inspiração para não esmorecer e desanimar. São o impulso para um pequeno
descanso, uma pausa para o respiro e persistir na caminhada. Tudo que fizeram
está contado e registrado em todas as nossas redes de comunicação. Tudo é
memória. Vocês são a nossa memória. Imortais.
Isabel Oliveira
Presidente da AELE - Biênio 2024 -2026
Escada, 17 de maio de 2025.
Discurso de Posse – AELE – Biênio 2024-2026 – 27 de outubro de
2024
Escada, 27 de outubro de 2024
Isabel Crisina Pereira de Oliveira
Excelentíssimo Sr Marcelo
Moreira, a quem agradeço e me reporto a todos e todas dessa amada casa Tobias
Barreto, membros efetivos, correspondentes, honorários, beneméritos e jovens intelectuais.
Minha querida Diretoria e
Coordenações
Aos meus amados esposo, filhos,
familiares e amigos
Boa noite!
Hoje é um dia de profunda emoção
e responsabilidade, um dia em que assumo a presidência desta Academia de Letras
com uma imensa honra e um grande sentido de compromisso. Quero expressar a
minha gratidão a cada um de vocês pela confiança que depositaram em mim e pela
partilha deste sonho de fazer da nossa academia uma referência cultural e
intelectual que contribua ativamente para o crescimento de todos e todas, assim
como previsto em nossa missão institucional.
A Academia Escadense de Letras
nasceu em 2010 com o propósito de fortalecer a arte e a literatura em Escada.
Por sua definição uma academia de letras se caracteriza por ser uma instituição
de cunho literário e linguístico para promover a língua e a literatura de um
país. A AELE é só isso? Nesses 14 anos
de vida a nossa academia tem feito um trabalho exemplar de cuidar, manter e
promover a arte, a literatura e a ciência para além das nossas portas,
atingindo a nossa cidade, a nossa região, o nosso Estado e até partes do nosso
país e para além de suas fronteiras, por meio dos nossos correspondentes.
E quem é a Academia Escadense de
Letras? Quem está por trás de todas as suas atividades? Não podemos esquecer
que uma Academia de Letras só existe, porque ela é feita de pessoas. Pessoas
que fazem artes, literatura e ciência. O que é uma Academia de Letras sem
pessoas? Tornar imortal a sua obra, suas ideias, suas produções, só será
possível se essas pessoas se fizerem presentes. A gente só é lembrado pelo
impacto que deixamos no outro e na outra. Qual a marca que cada um e cada uma
aqui está deixando para se tornar imortal e, em consequência tornar nossa
academia imortal?
Eu sei que os desafios são
gigantes. Vivemos numa sociedade em transformação, uma sociedade que enfrenta
desafios de várias ordens: econômicos, sociais, e ambientais, todos complexos e
urgentes. Estes desafios tocam não apenas as nossas estruturas, mas também o nosso
íntimo como ser humano, a nossa forma de ver, de sentir e de nos relacionarmos
uns com os outros. Numa era em que o digital, a velocidade e a globalização
dominam o ritmo das nossas vidas, parece que a literatura, a escrita e a arte
são, por vezes, deixadas em segundo plano. Mas é precisamente aqui que acredito
que nós, como academia, temos um papel fundamental e, diria até insubstituível.
Passamos por uma pandemia que
julgamos iríamos nos tornar melhor como pessoas e como civilização, ledo
engano, estamos sendo bombardeados por uma propagação sem limites e sem
regulação de informações que nos levam a pensar apenas na perspectiva individual,
minoritária, misógina e fascista. Esse bombardeio de informações irreais e de
vislumbre de uma vida perfeita tem nos adoecido e principalmente adoecido
nossas crianças e jovens.
E como academia de letras,
podemos contribuir como uma de janela de oportunidade que a arte, a ciência e a
literatura podem proporcionar para ajustar e apontar caminhos alternativos. Se
não fizermos isso, outros já estão fazendo. O que não falta nas redes são
coaches e mini coaches lançando aos quatro cantos do mundo que o problema não
está na nossa sociedade extremamente desigual, na falta de oportunidades, na
meritocracia, e sim no indivíduo que não focou o suficiente, não trabalhou o
suficiente, não rendeu o suficiente, pois todo mundo tem as mesmas 24 horas. E
essa insuficiência tem levado muitos adolescentes e jovens a perderem o encanto
pela vida. De acordo com o IBGE (2022) 22% dos jovens brasileiros (quase 11
milhões) nem estudam e nem trabalham, sendo chamados de geração Nem-Nem. Destes
11 milhões, apenas 11% são homens brancos, ou seja, teremos uma geração
significativa de mulheres e homens, em sua maioria negros, que se tornarão mais
pobres nas próximas décadas e, já sabemos quem continuará sendo os alvos dessa
sociedade desigual e armada. Como Academia de Letras, temos uma responsabilidade
social também sobre essa problemática.
Como dizia Amarthya Sen em seu
livro “Desenvolvimento como liberdade”, cada indivíduo tem a capacidade de ser
o que ele quiser ser, só lhes falta oportunidade. Que sejamos, ao menos uma
pequena parte dentre as janelas de oportunidade. A nossa missão, neste momento
de transição e incertezas, é relembrar o valor da palavra, a força
transformadora da literatura e a profundidade do pensamento crítico. Precisamos
incentivar a criação, mas principalmente uma reflexão sobre a sociedade que
estamos construindo. O nosso trabalho, minhas amigas e amigos, não é apenas
preservar a arte, a literatura e a ciência, mas também de esperançar esse
futuro.
Ontem em uma tarde calma em um
ambiente alternativo chamado “Aldeia do Mundo” eu vi uma frase que dizia o
seguinte: o mundo será local, coletivo e cuidadoso. Na hora eu duvidei dessa
frase, achei utópica e irreal diante de tantas catástrofes sociais, políticas e
ambientais (o todo). Mas depois de experienciar o lugar eu entendi que a gente
pode fazer a diferença no mundo, não no todo, mas em suas partes. Aquelas
pessoas acreditam naquela mudança de perspectiva e suas ações têm alcançado
outros e outras, como nos disse João Cabral de Melo Neto quando escreveu
“Tecendo o Amanhã”. “Um galo sozinho não tece uma manhã:ele precisará sempre de
outros galos. De um que apanhe esse grito e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que
com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para
que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos”.
No entanto, a pandemia nos deixou
mais distantes. Tem sido cada vez mais difícil um acadêmico lançar um grito
para outro acadêmico e esse laçar a outro acadêmico e assim ir tecendo o amanhã
da AELE. Depois do virtual e de entrarmos no modo ‘sem tempo para nada’, nem
todos fazem questão da presença, do olho a olho, de um abraço, um café, uma
prosa, pois isso é o que nos fortalece como seres humanos. E isso também tem
afetado nossos lares, nosso ambiente de trabalho, nosso ambiente de estudo e
nossa Academia. E como Academia de Letras precisamos contribuir com a crítica
social, ser a diferença entre os indiferentes, ser o verbo, ser presente.
Assim, deixo aqui o conselho do
meu patrono, economista Celso Furtado que disse o seguinte: “Aos intelectuais
cabe-lhes aprofundar a percepção da realidade social para evitar que se
alastrem as manchas de irracionalidade que alimentam o aventureirismo político;
cabe-lhes projetar luz sobre os desvãos da história onde se ocultam os crimes
cometidos pelos que abusam do poder; cabe-lhes auscultar e traduzir as
ansiedades e aspirações das forças sociais ainda sem meios próprios de
expressão”. Não podemos nos isentar como seres políticos que somos.
Em outro espaço, nesta mesma
tarde de ontem, encontrei a resposta depois das minhas reflexões. “Se todo
mundo fizer um pouco, ninguém faz muito (aldeia do mundo). Se todos e todas
aqui fizerem um pouco, ninguém fará muito e a Aele se fará ainda mais gigante.
Como mulher, sinto também a
responsabilidade de abrir portas, de acolher vozes diversas e de garantir que
todas as perspectivas sejam respeitadas e ouvidas. A literatura é um espaço de
liberdade, e a nossa academia deve refletir essa mesma liberdade, sendo
inclusiva, democrática e promotora da igualdade. Comprometo-me também a
promover um ambiente de partilha, em que os nossos membros tenham o espaço
necessário para desenvolverem as suas ideias e projetos. Vamos trabalhar para
que a nossa academia atenda sua missão institucional de ser reconhecida como
uma academia atuante, inclusiva, democrática e plural. Vamos continuar a
incentivar a leitura e a escrita em todas as suas formas, porque acreditamos
que o conhecimento e a empatia são essenciais para enfrentar os desafios do
nosso tempo. Lutar com palavras é o nosso lema. Termino aqui com as palavras
simples de Manoel de Barros: “Que a importância de uma coisa não se mede com
fita métrica, nem com balanças, nem barômetros. Que a importância de uma coisa
há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.” Voltemos a nos
encantar meus amigos e amigas. A AELE se faz pelo encantamento por ela.
Agradeço a todos e todas pelo
apoio e presença. Muito obrigada.
**********
DISCURSO DA PRIMEIRA PUBLICAÇÃO DO LIVRO
“MULHERES DE ESCADA QUE FIZERAM E FAZEM A HISTÓRIA”
“Maria, Maria, é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta
Maria, Maria, é o som, é a cor, é o
suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta
Mas é preciso ter força, é preciso ter
raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca, Maria,
Maria
Mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha, é preciso ter
graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca possui
A estranha mania de ter fé na vida…”
(Milton Nascimento)
Inicio minhas palavras com a música de
Milton Nascimento “Maria, Maria”, que apesar de ter mais de 04 décadas de
existência, segue lembrada em rádios, redes sociais, novos artistas. A história
dessa canção fala sobre uma Maria que o amigo de Milton Nascimento, Fernando
Brant, havia comentado. Tratava-se de mulher que lutava sozinha para cuidar dos
filhos, apesar de viver com dificuldades e fazia absolutamente tudo para que os
seus três rebentos continuassem na escola.
Esta música despontou pela mensagem
direta de “força, raça, gana e sonho, sempre”. Percebemos nela a
representação da força feminina e continua extremamente atual, dado que a letra
conta com inúmeras características comuns com a população feminina brasileira
que não desiste, mesmo diante dos obstáculos diários.
Ressalto que esta canção ganhou mais
força, quando foi cantada por Elis Regina em 1980. A performance poderosa de
Elis representou o elo definitivo da música com o universo feminino, por isso
contextualizei nosso lançamento com esta canção, porque, nesse recinto, há
muitas Marias que empoderadamente escreveram sua história e com muita “força,
raça, gana e sonho fizeram ou têm feito diferença por onde passa.
Falar sobre a força da mulher é tecer
um percurso de luta por direitos humanos. A história registra avanços e
desafios de uma “parcela minoritária”, mas esclarecemos, de antemão, que esta
expressão não está relacionada ao menor número de pessoas. De acordo com o PNAD
Contínua (2019) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 51,8% da
população brasileira é de mulheres. Nesse sentido, o termo minoria diz respeito
a uma situação de desvantagem social, ou seja, fica à margem da sociedade, por
esta razão, lutar é sinônimo de feminilidade.
O panorama histórico tem registros de
apagamento, anonimato e silenciamento da mulher. Até bem pouco tempo,
precisávamos garimpar rostos e relatos de figuras femininas que lutaram
resilientemente em seu contexto de vida, porque a invisibilidade imperava, as
identidades e as subjetividades eram mutiladas.
Reconhecemos nossa marginalização
abrangentemente semeada, tanto nos direitos básicos que nos eram negados, como
o voto e a escolha de matrimônio, quanto à questão da alfabetização e do
estudo, limitando-nos à esfera familiar. Isto significa que já vivemos época em
que escrever era para fins de etiqueta, porque só as damas da alta sociedade
participavam, intensificando, assim, a desigualdade na literatura entre os
gêneros, pois os homens conseguiam escrever e publicar suas obras, enquanto
que, a nós, isso era negado e, muitas vezes, proibido.
Vemos isso na literatura, não só em
personagens, como também em autoras nacionais e internacionais. A título de exemplo,
a escritora e jornalista bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, vencedora do Nobel
de 2015 deu voz às combatentes soviéticas da 2ª Guerra em seu livro “A Guerra
não tem rosto de mulher”.
Na literatura nacional, encontramos
Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista brasileira, negra,
filha de mãe branca e pai negro, foi a primeira mulher a ser aprovada em
um concurso público no Maranhão para o cargo de professora de primário.
Escreveu o romance Úrsula (1859), o qual criticava a escravidão por meio da
humanização de personagens escravizados, enfrentou o silenciamento da sua obra,
que só foi recuperada em 1962 pelo historiador paraibano Horácio de Almeida em
um sebo no Rio de Janeiro – e, hoje, até seu rosto verdadeiro é desconhecido.
Outro exemplo, a Academia Brasileira de
Letras rejeitou a entrada de Amélia Beviláqua em 1930 e, em 1950, os acadêmicos
alteraram o regimento a fim de impossibilitar a elegibilidade feminina
registrando que os membros efetivos deveriam ser brasileiros e do sexo
masculino, ou seja, só homens poderiam integrá-la. Depois de 27 anos, em 1977,
Raquel de Queiroz conseguiu ser eleita nessa academia, quebrando o tabu e
abrindo timidamente portas para outras autoras.
Este pano de fundo evidencia nossa
negação de direitos, embora muitas delas tenham ressignificado seus espaços e
protagonizado suas vidas. Ainda observando os registros, do Brasil colonial aos
nossos dias, podemos encontrar a figura feminina lutando, sendo resistência.
Sua trajetória traz as marcas de violência que sofreram e praticaram, bem como
suas ações contra os desmandos. Entre tantas guerreiras, destacamos as heroínas
de Tejucupapo, mulheres lideradas por Maria Camarão que, de crucifixo em punho,
convocou todas elas da vila de Goiana a pegarem armas e ajudarem os homens na
luta contra os holandeses em 1646.
Francisca Edwiges Neves Gonzaga,
Chiquinha Gonzaga, compositora e regente carioca, destacou-se na cultura
brasileira, emergiu no cenário musical do Rio de Janeiro em 1877. Corajosa,
enfrentava a opressora sociedade patriarcal e criou uma profissão excêntrica
para a mulher, causando escândalo na época. Adalgisa Rodrigues Cavalcanti,
primeira deputada estadual de Pernambuco em 1945, que teve um mandato marcado
pela luta por justiça social, foi presa e torturada, durante o regime militar
de 1964.
Carolina Maria de Jesus, catadora de papel e favelada, registrava seu cotidiano da favela em
cadernos que encontrava no material que recolhia no lixão e um desses registros
deu origem a seu primeiro livro, “Quarto de Despejo - Diário de uma Favelada”,
publicado em 1960, tornou-se best-seller, foi vendido em 40 países e traduzido
para 16 idiomas.
Estas heroínas, em diferentes contextos
e séculos, transpuseram obstáculos para atingirem seus objetivos, e muitas
outras fazem parte desse exército de desbravadora, como: Nise da Silveira no
campo da psiquiatria; Olegária da Costa Gama, pernambucana abolicionista, que tem
uma estátua em Poço da Panela; Geninha da Rosa Borges, atriz pernambucana numa
época em que havia muito preconceito; Edwiges de Sá Pereira, na área do
jornalismo e educação, nascida em Barreiros, etc.
Em Escada, lugar que inspira esta obra
intitulada Mulheres de Escada que fizeram e fazem a história, na qual se
registram lutas e resistências, não foi e não é diferente. Superar é a palavra
que nos caracteriza em nosso desafio diário. Há várias referências femininas,
que, à frente de seu tempo, significaram suas vivências.
Aqui registramos Maria Amélia
Cavalcante de Albuquerque, que rompendo o preconceito da época com o apoio de
Tobias Barreto, o qual escreveu uma carta ao Imperador solicitando o ingresso
dela à faculdade do Rio de Janeiro, conseguiu estudar Medicina tornando-se a
primeira médica do Norte Nordeste do Brasil.
Destacamos também Dionísia Inácia, a
escrava abolicionista que trabalhou a vida toda para comprar a alforria não só
dela, mas também de toda sua família, Maria Anunciada da Silva (Preta Vanda),
Dona Flora, Dona Eulina, Ruth Jatobá, que, na década de 40, sensível à carência
do povo escadense, junto com seu esposo, o promotor dr. Jatobá, fez
articulações políticas e sociais para construção de um posto de saúde e
conquistou a construção de nosso hospital Regional de Escada. Há tantas outras
que não estão com sua biografia publicada neste livro, mas têm um mérito
considerável pelo legado deixado à nossa cidade e pela referência motivadora
para muitas.
Por esta razão, é imprescindível
registrarmos suas experiências de vida, a força que elas emanam para outras
mulheres, pois há contribuições expressivas e, dessa forma, imortalizaremos
suas histórias. Este é um dos propósitos desta coletânea literária, dar
visibilidade a mulheres escadenses que contribuíram e contribuem para a
construção da historiografia e cultura de nossa cidade.
São tantas personalidades femininas de
diferentes épocas e áreas (educação, comércio, saúde, arte plástica,
literatura, jurisdição, meio ambiente, etc.) que, nesta edição, totalizam mais
de 40. Cada uma delas, em seu contexto, nesse universo feminino tão amplo,
configura recortes de vivências, que ao partilhá-las, assume o combate contra o
silenciamento e o apagamento.
Obviamente, que alguns questionamentos
podem surgir quanto a histórias de mulheres mais novas ou mesmo de outras que
não nasceram em Escada, como Ruth Jatobá, esposa do promotor dr. Jatobá, mas
passaram a vida aqui e deixaram um legado considerável.
Sob este viés, pensamos: por que
desconsiderar quem contribui? Agindo dessa forma, não fortalecemos uma postura
preconceituosa histórica? Estas perguntas retóricas abrem espaço para reflexão,
porque a Academia Escadense de Letras existe também para agregar, isto é,
respeitamos as histórias de quem contribui.
Dessa forma, afirmo, enquanto
presidente da Casa Tobias Barreto, que a publicação dessa obra, feita a muitas
mãos, é muito relevante. Estamos abrindo espaço para reconhecermos o valor da
mulher na terra dos potiguares, tabajaras e mariquitos, estamos dando o
microfone a quem, por muito tempo, foi silenciada e sua voz
desconsiderada.
Sublinhamos que nosso desejo é que
outras protagonistas escadenses compartilhem seu trajeto de vida em outras
edições a fim de influenciarem pessoas a crescerem e alçarem voos mais altos, e
que outros lugares de fala sejam ampliados para que sua voz seja ouvida em
fontes plurais. Sabemos que a cultura patriarcal enraizada desperta, muitas
vezes, constrangimento, pois nos fizeram acreditar que nossa história não é tão
importante para ser publicada.
Na verdade, durante toda trajetória
ouvimos que o lugar em que estamos inseridas não é nosso. Por muito tempo,
a síndrome do impostor foi desenvolvida, dessa forma, a falta de credibilidade
em nós foi intensificada e passamos a usar a autossabotagem, porque assumimos,
muitas vezes, como nossa, verdades que nos foram impostas pela sociedade.
Enfim, nem sempre o lugar destinado a
nós é o espaço que desejamos ocupar, nosso lugar no mundo é onde quisermos
estar e temos liberdade para escolher o que queremos ser, inclusive, se
decidirmos ficar em casa e sermos mães em tempo integral. Logo, nenhuma
profissão é exclusiva de um gênero. Portanto, nosso desejo é polinizar as
histórias das mulheres escadenses que protagonizaram suas experiências de vida,
desbravando dores e preconceitos e, ao longo do tempo, foram ocupando os
lugares que querem estar e suavizando os lugares por onde passarem.
Rosilda Araujo
(Presidenta da AELE – Biênio 2020-2022)
Discurso da Presidenta da Academia Escadense de Letras
Aniversário de 12 anos
Comemorarmos 12 anos de existência da
Casa Tobias Barreto não é mais um aniversário. Temos muitos motivos para nos
alegrarmos, fazermos festa e brindarmos. A AELE tem sido símbolo de resistência
e transformação. Surgimos na Zona da Mata Sul de Pernambuco, em um contexto de
invisibilidade e apagamento artístico-cultural. Escada tem artista? Tem
cultura? Tem poeta? Turismo? Estas indagações ecoavam pelas ruas da cidade e,
sob este pano de fundo, esta Casa nasceu e trouxe resposta aos questionamentos,
aos pouquinhos, vamos fechando as lacunas.
Cada membro com suas particularidades
vai deixando suas contribuições e auxiliando a sociedade escadense a enxergar
sua história, seus artistas, seus poetas, os quatro cantos da cidade passam a
ser conhecidos e visitados, não só pelos escadenses, mas também por pessoas de
fora, escolas de fora. Instituições de ensino começam a desenvolver projetos
para saber mais não só sobre Tobias Barreto e Cícero Dias, que outrora eram
desconhecidos na cidade. Agora, querem conhecer quem são os artistas da cidade,
qual é a cultura escadense e que produtos Escada fabrica, Escada exporta? Sim,
isto é transformar o contexto social em que está inserida. Não é presunção,
temos feito isso e quando digo nós, pontuo que há acadêmicos que têm
desenvolvido ações significativas para a cidade.
As interferências de Paulo Freire na
educação pernambucana, na alfabetização para adultos iniciadas em 1960,
influenciaram a legislação educacional e ele defendia que era responsabilidade
do ser humano transformar a realidade opressora. Temos transformado. Lembro-me
bem, quando fui convidada pela FAESC para apresentar um sarau que havíamos
organizado na ETE e ao final da apresentação, Minduca se aproxima, parabeniza e
gentilmente me pergunta: “eles conhecem Tobias Barreto e Cícero Dias?”
Pensativa, respondi que não. Ele só balançou a cabeça. Aquela linguagem teve
tanto significado, aquela forma de comunicação me disse tanto... nunca mais dei
aula sobre a 3ª fase do romantismo sem falar sobre Tobias Barreto, sem
evidenciar Escada, nem sobre o modernismo sem trazer à tona Cícero Dias ou
destacar os poetas e artistas locais. Minduca transformou o contexto em que
estava inserido. Isso é ser AELE. A AELE tem feito isso. Hoje já ouvimos
discursos bem diferentes daqueles que falavam nos primeiros anos desta academia.
Temos consciência de que há muito para
fazermos, que há lacunas a serem preenchidas, mas reconhecemos que estes 12
anos foram profícuos, porque nem a pandemia nos deteve. Mesmo diante de um
contexto de desenvolvimento tecnológico, conseguimos nos reinventar e
aprendemos a lidar com as ferramentas digitais que tínhamos disponíveis a fim
de atrairmos a sociedade escadense e juntos fazermos releituras de contextos
sociais, das dores da sociedade, em uma conjunção política muito delicada com
muita disseminação do ódio, não nos omitimos, nem retrocedemos, trouxemos
questões, de maneira poética, mas não romantizadas, para serem pensadas e
analisadas criticamente. Este é um dos papéis da cultura e da arte, elas
possuem um enorme potencial para construir uma visão crítica da realidade e
formação de consciência.
Paradoxalmente, conseguimos nos
aproximar ainda mais de outras academias no distanciamento social. Moreno,
Cabo, Tamandaré, Gravatá, Paulista, Camaragibe, Limoeiro, Sabará/MG através do
intercâmbio virtual. Podemos afirmar com propriedade que somos símbolo de
reinvenção. Ao voltarmos nossos olhos para o fio condutor da história desta
Casa, vemos que ultrapassamos barreiras, realizamos atividades que contemplam
minorias (grupos marginalizados na sociedade, como negro, idosos, crianças,
indígenas, mulheres), que ainda são menos representadas, consequentemente,
menos ouvidas.
A AELE, na tentativa de atenuar
problemas vividos por esta parcela da sociedade que tem sido marcada por
marginalização, apagamento e silenciamento, não cruzou os braços. Buscamos
realizar ações, como: a distribuição de feira básica, o natal com poesia distribuindo
livros, presentes, cestas, entre outros. Somado a isso, a AELE surge abrindo
espaço em nossas antologias, damos o lugar de fala. Fazemos questão de abrir um
lugar de fala para quem, sozinho, não conseguiu ser ouvido.
Sabemos que a hierarquia estrutural da
sociedade possibilita que produções intelectuais, saberes e vozes desses grupos
sejam tratadas inferiormente, mantendo-lhes em um lugar silenciado. Entendemos
que, entre várias de nossas funções, dar visibilidade a pessoas que tiveram
seus pensamentos desconsiderados durante muito tempo é também nosso papel.
Quando tratamos de assuntos específicos de um grupo, estamos dando o microfone
para quem realmente vivencia esta realidade.
Por esta razão, abrimos as portas para
que nossa sociedade escadense enxergue nossos poetas, nossos artistas, leiam
seus textos nas escolas, conheçam suas vidas, suas produções
artísticas-literárias e seus nomes sejam divulgados pelos alunos. A AELE é um
símbolo de resistência sim, porque há 12 anos, sem apoio público, tem caminhado
e atingido os objetivos propostos no Estatuto e, quando falo isto, trago todos
os presidentes que passaram por aqui e marcaram sua trajetória com ações
significativas para difundirmos a arte, literatura e ciência. Portanto, reitero
que juntos somos mais fortes e, machadiando, agimos como a agulha e a linha,
costurando laços e abrindo portas para a poesia, arte e a cultura.
Rosilda Araújo
Presidente da AELE - Biênio 2020-2022
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DISCURSO DO III ANIVERSÁRIO DA ACADEMIA ESCADENSE DE LETRAS-AELE – EM 24 DE MAIO DE 2013 – DA ESCRITORA E PROFESSORA - ACADÊMICA SEVATIL LÔBO
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Discurso de Fundação da AELE em 24 de maio 2010
Fundação e Posse dos Acadêmicos Fundadores
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Olá, colegas! Saudades da cidade de Tobias Barreto!
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